A ORIGEM DA TRADIÇÃO DE BANQUETE NA MAÇONARIA
Texto do Ir:. Rodrigo Medina Zagni (M:. I:.)
Das pulsões carnais, a fome, que nos recorda a necessidade de comer, é das mais importantes “dores” de que depende a vida. Proporcionalmente, da anulação da dor da fome (também a da sede, do sono e da libido), como afirmara Epicuro, tem-se o que afirmou como “prazer”. Com isso, o prazer equivale à “anulação da dor”. Evitando-se os excessos, nesse caso da “gula”, decorre o “prazer estável”, condição esta de “felicidade”. Relido pelos humanistas do Renascimento, a ideia epicurista de felicidade ganha sentido no conceito de “parcimônia” que diz respeito, por sua vez, à condição de equilíbrio entre as pulsões carnais de um lado, os afetos do espírito de outro, e como dois pratos numa balança, sendo equilibrados pela consciência moral, morada dos valores de bem e mal.
Com isso, o ato de comer não é apenas vital, é uma das fontes de prazer estável que equivale à felicidade. E por ser igualmente vital e realizador do prazer, junto de todas as etapas que viabilizam este ato (preparação da terra, semeadura, irrigação, colheita e preparo), comer é considerado também um ato sagrado para diversos povos e tradições.
Quando nos reunimos, em família, à mesa com o alimento posto, prestes a ser servido, e procedemos uma simples oração agradecendo ao Sagrado pelo alimento que permitirá a todos ali manterem a sua saúde física, estamos dando à refeição um sentido ritual.
Recordemo-nos, um instante, do que significa o ritual em termos teológicos, como um repertório de procedimentos que, conjugados e eivados de sentidos e significados mágico-religiosos, permitem ao indivíduo ou coletividades transcenderem o plano da existência biológica, matérica, e conectarem-se ao Sagrado, retornando à carne transformados pela experiência da transcendência.
Isto dito, o ato de comer, assim significado, é também um procedimento ritual; motivo pelo qual civilizações do passado assim o fizeram, como os egípcios, gregos, romanos, judeus, cristãos e tantos outros.
Há, com isso, dois troncos que se entrecruzam nas origens do Ritual de Banquete para a Maçonaria: as tradições herméticas que fundem cosmovisões egípcias e gregas; e a tradição cristã do Ágape. A cristianização dos procedimentos rituais no Rito Escocês Antigo e Aceito, somada à densa carga mística herdada das ciências herméticas, explicam essa nossa prática.