ARLS GUARDIÕES DO TEMPLO N. 7061 

O Templarismo no Rito Escocês Retificado

O Templarismo no Rito Escocês Retificado

 

 

A primeira grande distinção que importa estabelecer, de início, em relação a outros ritos maçônicos, é que o Rito Escocês Retificado (que daqui por diante iremos referir apenas como RER) é tanto um rito quanto um regime. Ou seja, para os três graus simbólicos iniciáticos convencionais, a saber: aprendiz, companheiro e mestre, o RER se insere na estrutura obedencial à qual estão filiadas as suas Lojas e que, costumeiramente, mantem sob seus auspícios outras Lojas de distintos ritos. Mas, para os graus superiores, o RER se organiza como regime, na forma de uma “Ordem Interna”. A sua organização como regime remonta ao período mesmo em que inexistia a prática da separação dos graus simbólicos e sua gestão por parte de uma Obediência Simbólica. A este respeito, recordemo-nos que o grau de Mestre só foi criado em 1725 e inserido aos dois demais graus simbólicos, definitivamente, após 1738.

Sua natureza, essência e mesmo origem o constitui a partir de tradições que remontam às ordens militares de cavalaria, ao templarismo e ao cristianismo, ou seja, repertórios entrecruzados que dotam-lhe de uma peculiar condição: a de um rito cristão de fortíssima inspiração templária.

Foi sistematizado por Jean Baptiste de Willermoz a partir de uma série de conventos (como eram chamadas as conferências, no ambiente germânico, que discutiam questões litúrgicas dos ritos maçônicos ali vigentes), quais foram: a Convenção de Unwürde, em 1754; a Convenção de Altenberg, em 1764; de Kohlo, em 1772; a Convenção de Brunswick, em 1775; e a Convenção de Lyon, em 1778; que convergiram para o momento culminante do Convento de Wilhelmsbad, em 1782, e cujo propósito era, primordialmente, o da superação das contradições avolumadas pelo Rito da Estrita Observância no escocismo.

Por escocismo, entendemos formas e práticas maçônicas anteriores à criação da Grande Loja de Londres e Westminster (provavelmente em 1721, e não em 1717, segundo sustentam pesquisas históricas recentes) e que chegaram à França a partir de 1649 já constituindo-se como mosaico de referências que remontam desde o judaísmo, o hermetismo, o rosacrucianismo e o templarismo, aliados às candentes questões políticas daquele tempo em que avançavam as ideias liberais no ambiente europeu.

A crítica feita, sobretudo, por aqueles que defendiam o retorno ao escocismo de molde inglês, é o de que o Rito da Estrita Observância teria franqueado o ingresso, nos repertórios maçônicos, para além da cabala hermética cristã, a elementos rosacrucianos, martinistas e esoterismos os mais diversos. Dessa vertente crítica, por exemplo, nasceu o Rito Schröder, gestado, durante certo tempo, em Lojas que praticavam, no ambiente germânico, o Rito de Zinnendorf.

Já o RER, cuja sistematização é feita por um herdeiro da tradição de Saint-Martin e Martinez de Pasqually e que, com isso, carrega a experiência anterior da Ordem dos “Ellus Cohen”, desenvolveu trajetória própria e distinta, apesar do relativo acordo (em termos de crítica) a conteúdos esotéricos indevidos no escocismo alemão. Desde suas primeiras sistematizações está a defesa do retorno a uma origem templária do escocismo, não na defesa de que teria havido uma origem templária da Ordem (como diziam as lendas oriundas do Discurso de Ramsay), mas concebendo o templarismo como sistema filosófico e fonte de inspiração, compondo-se com a doutrina cristã tradicional.

Para essa defesa havia o precedente do Rito de Perfeição de Heredom e que, em alguma medida, colhia do princípio martinista da “reintegração dos seres” uma importante fonte também de inspiração, que o RER também apreendeu.

Não se trata de uma ruptura com o Rito da Estrita Observância, mas uma espécie de correção de rumos e cujo termo “retificado”, longe de pretender corrigir o Rito Escocês Antigo e Aceito, dava novo sentido a conteúdos que, para o escocismo, levaram à “retificação”, primeiramente, em Dresden, com a “Reforma de Dresden” que postula uma “Maçonaria Retificada”, pelo Barão Von Hundt, criador do Sistema da Estrita Observância.

Podemos afirmar como principal distinção o fato de que Willermoz, para o RER, passou a considerar uma herança espiritual dos Templários, enquanto a Estrita Observância pretendia a sua própria restauração política.

Das Ordens Militares de Cavalaria o RER herdou, entre outros elementos, a espada, além do chapéu tricórnio que só é possível vestir quando alcançado o mestrado maçônico.

Em seu sistema atual, adicionou um quarto grau aos três simbólicos, organizando-se da seguinte forma:

Maçonaria azul: Aprendiz, Companheiro e Mestre.

Maçonaria verde: Mestre Escocês de Santo André.

Maçonaria banca (a Ordem Interna): Escudeiro Noviço e Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa.

Há, com isso, Graus da Maçonaria Simbólica e os Graus de uma Ordem Interior de Cavalaria Espiritual Cristã e Maçônica. Como Regime, os Graus Simbólicos são regidos por um Diretório Escocês Nacional, governado por um Deputado Mestre Nacional (que, na prática, acaba outorgando sua administração a uma Potência Maçônica); e a Ordem Interna governada por um Grande Priorado da Ordem dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa.

 

Texto do Ir:. Rodrigo Medina Zagni (M:. I:.)